
Das coisas que gosto fazer.
Este grande (palavra adicionada após terminá-lo) texto inicia feito blogueiro babaca: a pedidos, estou escrevendo este post. A gente sabe que ninguém pediu, mas a gente finge que acredita.
Mas veja só, este post foi a pedidos. A pedido de duas pessoas que não se conhecem, e coincidentemente, em um espaço de uma semana, me solicitaram a mesma coisa. Portanto, achei pertinente.
Minha vida de freelancer porque, ora, assim ocorre comigo.
Porque se tem algo que posso lhe dizer é: não há regras, mas há certas necessidades ou determinadas características que acredito que deva-se ter, ou, se não as tem, deve-se desenvolver.
Talvez seja um post para esclarecer, talvez um post para encorajar, talvez um post para ver que não, não é para ti. De repente, não agora. Ou nunca mesmo, como achei que era meu caso.
E eu era assim. Eu precisava de segurança, de estabilidade. Eu tinha medo. Vinde a mim os jobs, pensava eu, sentada na cadeira das empresas de design que trabalhei. Mas então aconteceu de eu não ser mais feliz daquele jeito. Eu queria trabalhar para mim. Batalhar por mim. Ver meu trabalho mais valorizado. Porque meu trabalho dá trabalho. Me ver crescer, já que não me via crescendo enquanto as empresas cresciam. E a vida de freelancer te dá isso.
O que aconteceria? Meu Pai do Santo Cristo, eu não sabia, e eu não sei, mas eu disse para mim: vou experimentar 6 meses.
Eu pedi demissão em novembro e trabalhei até dezembro do mesmo ano, 2013. Somente no mesmo dezembro de 2013, nas ‘férias coletivas’ dos outros e do meu desemprego, eu fui pesquisar como era efetivamente a vida de um freelancer. O que raios tinha que fazer para ser freelancer. E lá estavam todas as regras: crie uma rotina, planeje suas horas, não trabalhe de pijama, organize sua agenda, etc.
Um dos melhores elogios que recebi de um chefe, não foi um elogio ao layout, foi que eu tinha uma organização de execução de trabalhos superior. Eu sabia me programar para executar todas as tarefas diárias e isso vem de algo simples para mim: eu preciso me organizar antes de trabalhar. É uma ferramenta fundamental, e eu já tinha.
A mudança de trabalhar em casa me fez ter duas situações: quando eu morava com meus pais e agora sem eles.
Com meus pais foi uma época difícil nos primeiros meses. Eu estava em casa, portanto, para eles, disponível. Enquanto eu estava no meio de algum processo criativo, ou um olho na tabela de códigos de peças de catálogo no excel, outro no InDesign, outro no e-mail, outro no peixe e outro no gato, e pelo amor de deus ninguém me interrompa porque é um trabalho que exige concentração:
– Lya, podes vir me ajudar a descascar batatas?
Sim, esta era Madame Z.
Problema em descascar as batatas para ela? Nenhum.
Mas não naquela hora.
Eu tive que conversar em casa. Eu expliquei que poderia ajudar, mas eu estava sim, trabalhando. E que naquele momento e em vários outros, eu não tinha como interromper imediatamente a sequencia de raciocínio em que estava, para sair correndo e cortar batatas. Minha mãe entendeu um tempo depois.
Naquela época, eu acordava sempre no mesmo horário (como recomendado) e trocava de roupa (como recomendado). Me vestia feito mendiga, mas pelo menos não era pijama. Meses depois, eu estava de pijama trabalhando, como faço até hoje, mais de um ano depois. Trocar de roupa era um dos ‘itens essenciais’ para um freelancer em casa. Quando percebi, a roupa que eu vestia, fosse pijama, fosse mendiga, não mudava em nada minha dedicação ao trabalho. Hoje acordo a hora que quero. Pode ser as 8, pode ser as 9, pode ser as 10. Tudo depende do andamento do projeto que estou executando. Outra questão, eu não sou um ser noturno. Eu funciono durante o dia.
Agora, dona do próprio lar, distração em casa? Poucas. Meu senso de responsabilidade é maior que isto (inclusive gera alguns puxões de orelhas – com razão – por vezes ser exagerado). E acredito que isto foi outra característica desenvolvida nos anos que trabalhei em empresas. Junto disso, venci grande parte do monstro chamado procrastinação. Por favor, faça listas de tarefas.
Sempre trabalhei em equipe e achei que sofreria muito da falta de outras pessoas ao meu redor, carrego hoje grandes amigos vindos do trabalho. Mas, tirei de letra. Acho que por ser alguém que consegue ficar bem sozinha.
Aprendi que se eu não mudasse, nada na minha vida mudaria. Aquela virada dependia de mim e só de mim. E assim se fez, ou assim me fiz. Me vi trabalhando, indo destemida a reuniões, conversando, apresentando o que sei fazer para pessoas que não conhecia. Eu cresci. E se eu voltar a trabalhar em uma empresa, eu voltarei melhor, porque soube me virar sozinha.
Eu dizia, que sorte eu tenho. Mas parei para pensar e não, não era sorte. Eu estava apenas colhendo fruto de muita dedicação em todos os lugares que passei. Que sempre coloquei acima de várias outras responsabilidades (que não é bonito e a gente chega a ficar doente com isso).
Não sei o dia de amanhã.
Não sei até quando terei a oportunidade de trabalhar assim, mas estou aproveitando o momento, que dura atualmente quase um ano e meio sem parar.
E espero parar. E quando digo parar, é espero poder tirar férias, que não pude. Preciso ver as coisas lá fora.
Os meses bons superaram os menos bons e me fazem querer continuar e tentar.
Eu gosto daquela frase do Guimarães Rosa,
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
E se teve algo que ganhei, foi coragem.